Varejo testa forma de acelerar a última milha
Varejo testa forma de acelerar a última milha . No comércio on-line a ‘last mile’ pode chegar a 45% do custo de uma venda feita pela internet
Varejistas que operam no meio digital tentam reduzir custos e acelerar a última etapa da entrega de um produto, conhecida no setor como “last mile” (última milha, na tradução do inglês). Estão usando computação em nuvem, armários inteligentes, bicicletas elétricas e até drones e robôs.
A última milha representa pelo menos 24% dos custos logísticos. Se for no comércio on-line, essa fatia chega a 45%, calcula o instituto Ilos, especializado em logística. A inovação nessa área ainda é está começando, mas já movimenta cifras expressivas. A B2W, dona dos sites Americanas.com, Submarino e Shoptime, quer usar a maior parte do investimento de R$ 5 bilhões em dois anos para projetos integrados de logística, como ampliar de sete para 17 centros de distribuição automatizados (que podem reduzir pela metade o prazo de expedição de um produto) e aumentar as ofertas de frete grátis aos clientes.
A busca por soluções se reflete também nos aportes em startups. Relatório da plataforma Distrito, que reúne dados de startups, mostra que US$ 1,3 bilhão foi investido em logtechs nos últimos 10 anos. Esse valor não se restringe ao segmento de entregas, mas 20% das empresas são da área. Vale destacar que US$ 887 milhões desses aportes foram para duas startups de entregas: Loggi e iFood.
A Loggi anunciou investimento de ao menos R$ 600 milhões em tecnologia e inovação até o fim de 2022. Ela tem concentrado esforços nos sistemas de rotas inteligentes, que usam algoritmos e inteligência artificial para agrupar pacotes de regiões próximas e diminuir o tempo gasto em cada entrega.
Já o iFood começou a operar em dezembro, ainda em caráter experimental, drones para fazer uma etapa intermediária da entrega de pedidos. A autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) saiu em agosto de 2020, mas a experiência foi adiada para garantir a segurança dos envolvidos devido à covid-19, diz Felipe Martins, diretor de inovação do iFood.
A operação acontece em parceria com a startup Speedbird Aero, de Franca (SP), que desenvolveu o equipamento, e é realizada de quarta-feira a domingo na área externa do shopping Iguatemi Campinas. A experiência começou com um voo por dia e tem aumentado ao longo das semanas. Há ainda uma segunda rota aprovada, que poderá levar o pedido do shopping até um ponto de pouso em um conjunto de condomínios próximo ao shopping. A autorização permite que o drone da Speebird Aero voe 2,5 km, a até 120 metros de altura e carregue até dois quilos.
“O drone chega para complementar os modais de entrega. Ele não vai sair do restaurante e deixar o pedido na janela do cliente, mas estamos otimistas de que ele vai ser eficiente na perna que ele vai percorrer”, diz Martins. O restaurante deixa o pedido no ponto de decolagem do drone, que o leva até o hub do iFood, que fica na outra extremidade do shopping. De lá, o entregador sai para completar o trajeto. Segundo Martins, os testes iniciais mostraram que um entregador gasta até 12 minutos dentro do shopping para buscar o pedido, percurso que é percorrido em cerca de dois minutos pelo drone.
Os dados levantados em seis meses de experimentos vão ajudar a traçar o planejamento. “Das mil cidades em que operamos, identificamos que pelo menos 200 têm características similares a dessa área de testes em Campinas para as quais poderíamos levar a solução.”
O estudo mais recente do Ilos mostra que apenas 15% das companhias já utilizaram drone em alguma etapa de suas operações e pelo menos 36% esperam aumentar ou iniciar esse uso nos próximos dois anos. Foram ouvidas 73 companhias de maior faturamento no país e de diferentes setores. “Ninguém no Brasil conseguiu dar escala para esse uso, principalmente quando falamos de consumidor final ”, diz Maria Fernanda Hijjar, sócia do Ilos. Ela explica que o custo elevado e as restrições de regulamentação limitam essa expansão.
Embora a operação ainda seja incipiente, Manoel R. Coelho, sócio-fundador da Speedbird Aero, acredita que o cenário deva mudar bastante em até cinco anos e argumenta que as autoridades brasileiras têm progredido rapidamente com melhorias de regulamentação. A startup do interior paulista mantém estudos com a B2W, tem um projeto com os laboratórios Hermes Pardini e anunciou uma parceria com a Azul. Ele conta que todas as grandes varejista on-line já os procuraram.
Ainda olhando para o longo prazo, o iFood quer começar a testar nos próximos dias um robô capaz de carregar até 30 quilos. Assim como no drone, a operação deve ser em um ambiente controlado, dentro de um shopping de Ribeirão Preto, fazendo a coleta dos pedidos com os restaurantes e levando até um ponto de encontro para entregadores. Em uma segunda etapa, o robô será testado em um condomínio residencial na mesma cidade. “Nosso objetivo é de melhorar a eficiência quando dividimos as etapas da entrega. O valor da frente de entrega automatizada está na complementariedade dos modais”, diz Martins.
No ano passado, o aplicativo de encomendas Rappi realizou na Colômbia, seu país de origem, testes de entrega por meio de um minirrobô. “A ideia desse novo método de automação de entregas, especificamente, era estabelecer uma nova camada de segurança para a empresa e seus consumidores em meio à pandemia do novo coronavírus”, diz a empresa. Segundo o Rappi, a tecnologia está pronta para ser utilizada no Brasil, mas ainda não há previsão para esse início.
Mas a participação ainda pontual de drones ou robôs de entrega não significa falta de inovação no setor. Segundo o Ilos, 92% das empresas ouvidas na pesquisa já usam algum serviço de computação em nuvem, 58% já fazem uso de inteligência artificial, 51% usam robôs em seus armazéns e 32% já usam algum tipo de veículo autônomo.
Fonte: Ilos e Valor Econômico