Travessia em duas rodas
Travessia em duas rodas . No dia Mundial da Bike, compartilho uma das minhas experiências inesquecíveis com a magrela. Uma das coisas que a bicicleta me ensinou foi apreciar a travessia.
Numa sociedade frenética, onde sempre pensamos na chegada, em cumprir uma tarefa, acabamos fazendo muitas tarefas automaticamente, sem curtir os meios. Pedalar é trazer a presença para o agora, experienciar cada momento em em uma velocidade menor. Assim, vemos coisas que não costumamos enxergar se estivéssemos de carro ou de ônibus.
Talvez seja por isso que eu goste tanto da mountain bike, ela permite um contato direto com a natureza e com o agora.
A primeira trilha a gente nunca se esquece…
A primeira vez que eu fiz uma trilha de bike foi em um evento chamado Bike Chopp Feliz com as minhas amigas Larissa e Regina. Na época, eu não tinha a menor ideia onde estava me metendo, nenhuma de nós sabia.
Eu pedalava praticamente só no plano poucos quilômetros para ir ao trabalho em Porto Alegre e para ver o famoso pôr do sol no Guaíba. Não sabia o quanto aquelas roupas esquisitas com almofadinhas para ciclistas faziam a diferença. Não sabia a diferença dos tipos de bicicletas, nem que era necessário levar um kit com câmara reserva. Não tínhamos como ir, era na cidade de Feliz , em uma cidade proxima à Porto Alegre, acabamos alugando um carro que o porta malas não abria, então tivemos que desmontar a bicicleta, e quando montamos de forma toda desregulada, cada freada parecia uma buzina.
Tinha chovido na semana anterior e a terra estava uma lama. Estávamos muito felizes e o que não faltava era brilho nos olhos pra desbravar aquela trilha e esperança de encontrar cerveja nos check points. Logo no início, eu e a Larissa nos perdemos da Regina. Eu não levei nada para comer e no meio do caminho encontramos laranjas, foram as laranjas mais saborosas que eu já comi. Na época, nem gostava de frutas, mas estava com tanta fome, que ataquei aquelas laranjas.
Passamos por muitas subidas que a lama trancou na roda e muitas descidas que tivemos que empurrar a bike, e o que tinha de sobra era alegria, paisagens incríveis e incentivo “vaaamos que falta pouco”. Até chegarmos no último check point, onde as frutas já tinham terminado, acredito que nós éramos as últimas e, para o nosso espanto, já havia passado quase quatro horas e ainda estávamos em um pouco mais da metade do caminho.
Estávamos muito cansadas e o trecho final era no asfalto, então, como não tínhamos gps, criamos a unidade de medida do poste, onde estimamos que a distância entre dois postes era 100m e assim fomos até a chegada, contando os postes. Toda essa vivência com a trilha fez com que eu me abrisse mais para novas experiências.
Para pedalar, é preciso estar atento e isso nos faz presente, esquecemos momentaneamente dos problemas e do final e focamos no agora. Porque a vida não se resume na chegada e sim, em tudo o que experimentamos e vivemos durante o caminho.
Leia também: Leia também: A Bicicleta nesses Tempos tão Difíceis (clique aqui para acessar o post) e Nova página sobre Mobilidade no Blog Rogerio (clique aqui)
Cada texto seu que leio me sinto representada como mulher, engenheira para alem dos números, como seres femininos plurais. “Para pedalar, é preciso estar atento e isso nos faz presente” essa frase me faz pensar no que eh essencial, seria também isso o contato com a natureza, com a terra e estar presente no agora. Que bom que você existe e se dispõem a escrever sobre mobilidade urbana a partir da escrivivência.
Daiane fico extremamente satisfeito de incorporar o olhar feminino moderno, indenpendente e vibrante. Ao convidar a Fernanda para”pilotar” a coluna de mobilidade queria rejuvenecer o blog e atualizar a visão de mundo de forma que ele seja mais sustentável mais plural e mais justo.
Daiane, aqui é a Fernanda, tu não imaginas o quanto fiquei feliz em ler tuas palavras, soaram como um combustível “feminista e propolulsor” para que eu continue escrevendo. Tu conseguiste ter uma leitura muito genuína do que procuro transmitir enquanto escrevo. Quantos lugares não nos sentimos representadas? Ocupar a obra, o trânsito, uma sala de engenharia são formas de lutar por um espaço que é nosso e das próximas gerações de mulheres, é honrar nossas ancestrais. Para além do rótulo de “engenheira”, somos muito mais do que a nossa profissão, como tu mesma falaste, somos mulheres, plurais, independentes, que nem sempre se encaixa nesse estereótipo da engenharia. Gratidão pelo teu comentário, me incentivou muito!